terça-feira, 7 de abril de 2009

‘Vício’ em forma de vinil*


Paulo Silveira se identificou com o LP, virou DJ e hoje conta com 800 discos em sua coleção

O vinil “luta” há duas décadas contra o CD e, quem previu a sua morte, se enganou. O “bolachão” está mais vivo do que nunca e vem ganhando adeptos da nova geração. Se o material conquista os jovens, imagina quem viveu a época e aprendeu a admirar o objeto. Paulo Silveira, 34 anos, é um deles e, há dois anos, trabalha como DJ de rock.

O primeiro contato com o vinil aconteceu após ganhar de presente de aniversário o disco de Rod Stewart, em 1986. O álbum possuía duas músicas. Porém, Paulo precisava de mais incentivo para se render ao “bolachão” e isso aconteceu graças a um amigo. “Eu ia na casa dele jogar futebol, videogame e, é claro, ouvir seus vinis”, recorda Paulo. “Eu gostei do formato e lance virou vício.”

Paulo foi atrás de outros vinis e virou “DJ” nas festinhas escolares de suas turmas entre a 6ª série e o segundo ano do 2º grau. Na época, usava dois aparelhos toca-discos e os improvisava como pick-ups. Depois, se aventurou em festas realizadas no Tênis Clube devido à outra amizade. “Tinha um amigo deixava eu discotecar no fim de festa”, sorri.

O estilo preferido é o rock e a postura nunca mudou. No início, o repertório privilegiava o estilo nacional do fim dos anos 80, com destaque para o Legião Urbana, Titãs e Ira. Os grupos internacionais ganharam espaço e The Cure, The Smiths e The Clash rodavam com freqüência nas pick-ups durante a rápida apresentação.

Em seguida, surgiu o CD e a maneira de discotecar ficou mais fácil. “As festas tinham aparelhos voltados à mídia e o processo era menos trabalhoso”, conta. “Tudo o que eu tinha em vinil comprei em CD.” Em 1996, Paulo foi chamado para trabalhar no bar Bartolomeu, no Centro, e aceitou o convite depois de avisar o dono que seu repertório era composto apenas de rock.

Na década atual, Paulo discotecou no show do Los Hermanos na capital, em 2003. Além de DJ, ele também é produtor de eventos e, no ano seguinte, trouxe o grupo carioca para a única apresentação da história do grupo em Joinville. Depois, organizou e colocou o público para dançar em festas na
Double Phase e Cais 90. No ano passado, participou de eventos no Old Music Bar e, em 2008, foi convidado para embalar um show em Balneário Camboriú.

Tocar em Joinville atualmente não é fácil pela falta de espaço. Ele se vira como pode e devido à música eletrônica a aceitação está mudando.

Coleção repleta de raridades


Paulo possui aproximadamente 800 LPs e se desdobra para aumentar a coleção. Recentemente adquiriu o álbum “Pet Sounds”, do Beach Boys e, “Amnesiac” do Radiohead. A edição do último é limitada e o material tem dez polegadas. Os vinis normais possuem 12 e, a metade, sete. Outro disco raro é o “4” do Los Hermanos onde foram prensadas apenas 1.000 cópias. A coleção ainda possui preciosidades como, LPs do Pixies, Faith no More e singles de todos os álbuns Legião Urbana. Além dos dois primeiros do Chico Science e Nação Zumbi.

O preço das raridades chama a atenção: “O disco do Radiohead no mercado pode chegar a duzentos dólares e, o do Chico Science, a cento e cinqüenta reais.” O problema é conseguir adquirir essas obras em leilões da internet ou em feiras do material. “Tem de correr atrás, eu consegui muita coisa garimpando.” Paulo já foi para o Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis atrás do objeto. “Vinil não é um investimento barato e eu tenho muita coisa importada”, garante. Segundo ele, DJ bom vai atrás de material e compra.

De acordo com Paulo, o vinil é o jeito mais seguro de combater a pirataria. Também tem todo um ritual para ouvir o LP e, além do lado A e B, o encarte é grande e a pessoa lê até os detalhes técnicos.

*Matéria publicada no Jornal Notícias do Dia em outubro de 2008
Foto: Rogério Souza

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