quinta-feira, 4 de junho de 2009

Quando o rock encontra o poeta*


Marca. Caco de Oliveira é especialista em poesias curtas e é figura carimbada em shows independentes da cidade

O entusiasmo por poemas curtos começou na infância quando a família morava em Guaíra, no oeste do Paraná. E, a admiração não surgiu da poesia, pois as aulas de português só ofereciam a gramática. Os “poemas” vieram das mãos da mãe, Marli Coelho, que lhe entregou um disco de Raul Seixas – enquanto o vinil rodava, o encarte era esmiuçado. Certa vez, percebeu que cada estrofe era um poema e o conjunto daquelas partes fechava uma história. Hoje, Caco de Oliveira, 49, é especialista na técnica oriental Haicai – poemas curtos.

O início na arte aconteceu aos 15 anos quando se mudou para Sete Quedas – cidade extinta após a construção de Itaipu. No município, trabalhou em um hotel e escreveu poesias para um jornal de Londrina. O material era publicado apenas no domingo, data de circulação do caderno de cultura.

Em 1979, após servir o Exército, veio para Joinville morar com o pai. Aqui, colocou os ensinamentos da instituição em prática. Porém, no sentido figurado. Se auto-intitulou o “guerrilheiro da poesia” e foi para a batalha. “Costumava tirar cem cópias e montava um gibi”, recorda. “Depois distribuía, trocava ou vendia, e fazia performances.” Nesse período, participou do grupo Viva Poesia onde todo primeiro ou segundo sábado de cada mês eram expostos os trabalhos em uma praça do Centro. Na época, também inventou o poema carimbado.

Cinco anos depois, se mudou para Curitiba e criou a Carimboteca da Feira do Poeta. Também fez amizades com artistas importantes devido a proximidade de sua residência com o Largo da Ordem. Entre as personalidades, se destacam os irmãos Pedro e Paulo Leminski. O primeiro, Caco de Oliveira, cortou a corda após o suicídio.

No caso de Paulo, o problema era o limite. “Ele sempre me convidava pra ficar na sua casa quando tocavam em Curitiba: Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Guilherme Arantes, mas ninguém dormia”, recorda.

Performance envolve mímica e sombra


Publicação. Caco de Oliveira exibe os livros de sua autoria

Caco de Oliveira retornou para Joinville em 1992 – período marcado pela saudade da cultura curitibana. No entanto, não ficou de braços cruzados e procurou os artistas da cidade, entre eles, Silvestre Ferreira e Borges de Garuva. Antenado, vasculhava o Jornal A Notícia para saber o que estava acontecendo no município. “Eu freqüentava qualquer exposição, mostra, show ou teatro”, enumera.

Além de poesia, Caco de Oliveira gosta de música graças ao vinil de Raul Seixas – presente da mãe. Também admira a Jovem Guarda. Em Joinville, é figura carimbada em apresentações de bandas independentes de rock e isso acontece desde 1995 – ano de inauguração da Casa do Rock. “Eu vou em todos os shows no Centro”, garante. “Se for muito longe, tenho medo de me perder. Aí minha mulher me bate e me manda pro psiquiatra”, ironiza e sorri.

A reciprocidade entre ele e o público deixa os shows mais atrativos. Durante as apresentações, Caco de Oliveira faz performances e a iniciativa chama a atenção de todos. A técnica usada é mímica e sombra – projetada no chão ou na parede. Na primeira, a inspiração é David Bowie e o resultado é a formação de um cisne. Na segunda, o efeito lembra um jacaré baseado em Iggy Pop e MC5. “Muita gente não entende porque olha para as minhas mãos, mas eu mando olhar para baixo ou para a parede”, explica.

Caco de Oliveira escreve poemas filosóficos, pois não gosta de chorar por amor. Segundo ele, a poesia tem de ser compreendida por todos. “Se alguém que tenha a terceira séria primária entender, fico feliz”, sorri. Ele possui dois livretos publicados entre 1992 e 94, e um livro chamado Acaso Sublime, de 2002 – edição esgotada. No mês passado, lançou a obra Cardume de Nuvens com a ajuda do Edital de Apoio às Artes da Fundação Cultural de Joinville (FCJ).

*Matéria publicada no Jornal Notícias do Dia em outubro de 2008
Foto: Fabrício Porto/ND

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